A manifestação psicossomática é um conjunto de sintomas físicos que surgem do desequilíbrio entre corpo e mente do indivíduo ao lidar com um trauma
O trauma é uma manifestação psicológica que marca e aprisiona as suas vítimas através de crenças e atitudes limitantes que surgem da interpretação de uma experiência traumática. Os traumas podem surgir em qualquer momento. Quando ocorrem na infância, geralmente trazem grandes repercussões que podem perdurar por toda a vida adulta.
Esses traumas podem surgir através da negligência, do abuso moral, de lares instáveis, de um divórcio dos pais, abuso físico e/ou sexual. No entanto, não são necessários acontecimentos catastróficos para que os traumas sejam gerados. Praticamente todos nós temos traumas.
A somatória de todas as experiências que vivemos modelam o nosso ser e a nossa personalidade desde a concepção no útero materno. As memórias das situações que passamos – conscientes ou inconscientes – desenvolvem padrões de comportamento que buscam a adaptação, o equilíbrio, e a sobrevivência.
Embora cada indivíduo tenha sua história pessoal e suas particularidades, a integração entre corpo e mente é essencial para a manutenção da saúde global de qualquer ser humano. A manifestação de doenças psicossomáticas ocorre quando as desordens emocionais têm influência direta na saúde, fazendo com que os seus sintomas, sentimentos e pensamentos desenvolvam patologias físicas.
Índice
O poder do trauma na infância
Um estudo internacional, realizado com mais de 17 mil pacientes, revelou que pessoas expostas a elevados quadros traumáticos na infância apresentaram um risco aumentado de:
- 700% para o alcoolismo;
- 400% para depressão;
- 220% para o tabagismo;
- 160% para diabetes e obesidade;
- 2,2 a 3,9 vezes para neoplasia (câncer) e doenças cardiopulmonares.
Esses números são resultado de um efeito cascata que, ao prejudicar o desenvolvimento cognitivo, psíquico e social dessas crianças, acaba desenvolvendo comportamentos de risco pela sua autopercepção distorcida.
No entanto, os traumas e quadros psicossomáticos podem ser desencadeados também em um ambiente aparentemente estável e positivo. Seja através da cobrança excessiva ou de pais ausentes que necessitam trabalhar para prover a casa. De fato, o trauma nada mais é que uma resposta psíquica a eventos que desencadearam sofrimento, angústia, medo e qualquer outro tipo de sentimento negativo.
O grande psicólogo Haim Ginott definiu que “crianças são como cimento molhado, qualquer coisa que cair em cima deixa uma marca.”
Em um dos grandes documentários sobre o tema – A Sabedoria do Trauma – o médico Gabor Maté refere a importância de entender profundamente a origem das marcas e dores no processo de construção da personalidade.
“O trauma não são as coisas ruins que acontecem com você, mas o que acontece dentro de você como resultado do que aconteceu”. – Dr. Gabor Maté.
A resposta ao trauma e a psicossomática
A resposta traumática é natural e muitas vezes está associada a eventos que por vezes nem lembramos com clareza — como os traumas da infância, ou até mesmo eventos vivenciados por outras pessoas — como as dinâmicas culturais e familiares, que são aprendidas e adquiridas pelas crianças, o chamado de trauma transgeracional. Diante disso, a psicossomática emprega métodos interdisciplinares para avaliar quadros de saúde oriundos de traumas.
Essas respostas ao trauma, seja ele qual for, faz com que a pessoa desenvolva crenças limitantes, com o surgimento de pensamentos como: “não mereço ser amada”, “não sou boa o suficiente”, “a vida é um sofrimento”.
Todos esses padrões mentais podem gerar :
- Comportamentos evitativos — de lugares, eventos, pessoas e atividades;
- Ataques de pânico e/ou raiva;
- Consumo de substâncias nocivas à saúde;
- Dependências químicas;
- Medo excessivo;
- Falta de autoestima;
- Respostas emocionais exageradas;
- Sentimentos de impotência;
- Dificuldade de interação social;
- Atração por situações perigosas;
- Tristeza e timidez excessivas;
- Hiper vigilância, entre outros.
Traumas e suas consequências
Em uma época em que nunca tivemos acesso a tanta informação, vemos crescente o número de pessoas diagnosticadas com doenças psicossomáticas, depressão e/ou ansiedade, alto índice de suicídio, uso generalizado de drogas, bebidas e outras substâncias químicas como o cigarro.
Segundo o médico Gabor Maté:
“Vício é todo o comportamento no qual a pessoa encontra alívio para uma dor no curto prazo, sofrendo prejuízos a longo prazo, não sendo ao mesmo tempo capaz de o abandonar.”
Porém, os vícios podem ser direcionados para outras áreas, desenvolvendo relações disfuncionais como: trabalho excessivo, realização de esportes em demasia, escolha de relações abusivas, vício de pornografia, jogos de azar, redes sociais, comida, etc. Todo excesso revela uma falta e funciona como mecanismo de escape para dores e traumas mal resolvidos.
O papel da medicina integrativa
Ressignificar os traumas é possível e necessário. Quebrar esse ciclo de dor possibilita uma reconexão com a nossa essência. O desenvolvimento e aplicação de estratégias de autoconhecimento permite um aumento da autoestima e promove uma melhoria da saúde física e mental, auxiliando no tratamento de doenças psicossomáticas.
A Medicina Integrativa é definida pelo conjunto de técnicas embasadas cientificamente que visam tratar o paciente de maneira holística, buscando o equilíbrio entre corpo, mente e espírito, por meio de abordagens convencionais e complementares, unificando de forma segura e eficaz a medicina tradicional à preventiva.
Nesse contexto, o tratamento de uma doença psicossomática requer muitas vezes a utilização de metodologias variadas que podem ir para além de métodos terapêuticos convencionais. A abertura e integração de todas as possibilidades terapêuticas permite uma compreensão alargada das causas do trauma e fornece ao paciente as ferramentas necessárias para ressignificar a sua história, corrigindo as suas crenças e atitudes limitantes.
As metodologias ao dispor da medicina com abordagem funcional integrativa providenciam uma fundação sólida para a criação das condições necessárias ao trabalho psicoterapêutico. Por exemplo, vários estudos apontam para a correlação entre a dieta, flora intestinal e regulação dos neurotransmissores e quadros psicopatológicos.
Saiba mais sobre como uma manifestação psicossomática impacta sua vida e como você pode começar hoje o processo de ressignificação dos seus traumas, para que possa viver uma vida mais saudável. Agende uma avaliação com a Dra. Talita Ferreira.
Fontes:
The Wisdom of Trauma – Dr. Gabor Maté
Trauma and Memory – Dr. Peter A. Levine